Em destaque:
Inverdades e Desmentiras, Não há razão, Toda nudez será castigada, A essência está na voz, The Doors, Aforismos.

segunda-feira, 25 de junho de 2007

Não há razão


Não há razão para este mundo, mas há uma rima e um ritmo...

quarta-feira, 20 de junho de 2007

Inverdades e desmentiras


Fulano conhecia o perigo das drogas.
E o que é o conhecimento,
manifestação morta do intelecto,
senão a adoção, resignada,
do produto de pseudo-pensamentos de outrem,
fruto do inapelável impulso de formação
de metáforas sobre metáforas
de igualação do não-igual,
do desserviço à espontaneidade?

Fulano usava a "folha", "doce" e outras iguarias.
E o que na linguagem
anda de braços dados com a realidade?
Os conceitos, como o de folha,
criados aleatoriamente, sem relação com a coisa em si,
nos remetem à existência de uma folha primordial,
como se todas as outras fossem dela desenhadas por mão inábeis,
de modo que nenhuma cópia, ainda que parecida,
fosse fidedigna à originalmente divina.

Fulano era honesto até que a necessidade o desdisse.
E as virtudes e defeitos, as subjetividades humanas,
são elas classificáveis, generalizáveis?
Como podem ações individualizadas, únicas,
influenciadas por um sem quanto de detalhes,
fruto de uma mente fora de seu nicho ecológico,
serem postas em xeque por um sem número de regras arbitrárias?
Qual a razão da honestidade? A própria honestidade?
Ou seja, a folha por causa da folha?

Fulano sentia-se triste com o rumo de sua vida.
E até que ponto o sentimento,
assim como seu discernimento, são amigos da intuição?
Mentir sempre segundo uma convenção sólida,
obrigação de uma sociedade insólita,
mistura-nos o concreto ao abstrato.
Um rei, dormindo 12 horas por dia, sonhando ser plebeu
é concretamente tão feliz quanto
um plebeu, dormindo 12 horas por dia, sonhando ser rei.

Fulano drogava-se para procurar um sentido na existência,
para projetar-se num plano metafísico mais elevado,
onde o conhecimento fosse a verdade intuitiva,
a linguagem fosse a do gesto, do olhar,
as subjetividades plenas, dando identidade à sua impessoalidade,
e os sentimentos fossem puros e intensos, vindos do fundo do ser.

Ele descobriu, enfim, um sentido na falta de sentido.

quarta-feira, 13 de junho de 2007

Dia dos namorados.


Saudade do teu perfume,
Que às vezes acho que sinto.
Impulso instantâneo,
Na lembrança revivo.

Saudade da tua voz,
A qual finjo ouvir.
Feminina, gostosa,
Forço a memória a sentir.

Saudade do nosso beijo,
No qual vejo o infinito.
Com olhos fechados,
O tempo não sinto.

Saudade de te fitar,
Bem de perto,
E fixar,
Com o olhar curto,
A imagem do amar,
Sem nenhum turvo.

Mas felizmente
Toda a saudade é preenchida,
Rapidamente,
Com mais perfumes marcantes,
Mais beijos paralisantes
E mais olhares inocentes.

quarta-feira, 6 de junho de 2007

O belo e estreito nuance do branco-e-preto


em contraste a sua inocência
está sua sensualidade;
e o que seria de sua virgindade
sem a sua impudência?
leveza e clareza
fardo, mistério;
fragilidade, impotência
força e poder:
isso forma o arco-íris do ser
embora descolorimos-no sem saber

é normal ser paradoxal
e é assumindo-nos numa cor fixa
que pintamos a vida cinza

sexta-feira, 1 de junho de 2007


Às vezes, sinto que algo está faltando.
Às vezes não, constantemente.
Mas será que não é o contrário?
Ao invés de estar faltando, pode estar sobrando!
Excesso de preocupações, excesso de desejos, excesso de prazeres.
Sobra tanta coisa que a mente não pára quieta.
Fica querendo nadar contra a corrente.
E mesmo querer fazer nada já é um querer.