Em destaque:
Inverdades e Desmentiras, Não há razão, Toda nudez será castigada, A essência está na voz, The Doors, Aforismos.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

The Doors


um dia
com muita força bati
a porta
depois
nunca mais a ouvi
bater
"é surdez"
todos dizem
já eu digo
vai ver
nunca mais abri
a porta

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Ménage


O Triângulo
é um polígono
de três polígamos

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Desabafo

não posso estar certo se pelo menos isso provém univocamente da minha essência, compreender até que ponto fui contaminado de automaticidade ao (tentar) furtar-me à mecânica das engrenagens da Sociedade, retroalimentada ingenuamente pelos organismos humanos. voltando, a que remeteria a tal famigerada personalidade, a qual deveria, ao menos em tese, responder a fatídica pergunta 'quem sou eu?', caracterizar o ser (ou o não-ser)? ah, à expressão-de-uma-parte-ínfima-mas-dominante-do-eu, quase me esqueço. já que toquei no assunto, e esse tal eu, o que mesmo era para ser? para não fugir do lugar-comum, usa-se dizer que seria aquilo constamente inconstante, toda aquela metamorfose ambulante. você sabe: tempos de efemeridades, mutabilidade deixou de ser insanidade para virar moda global. Mas o que eu não entendo é que. ou será que não é que? que? qual? quando? como é que alguém definiu que, ao menos no infinitésimo de intervalo de tempo, eu sou eu, você é você, não somos vários, e todo mundo, não sendo todo mundo, acreditou, acreditaram? como podemos (nós?) crer em democracia de nossas partes, de nossos átomos, quando na verdade vivemos ditadura sangrenta de certas tendências (melhor: fraquezas) nossas, modeladas a cada instante pelo meio? não há para onde fugir: somos a encarnação de todas as possibilidades, atitudes e sentimentos, nós podemos (e queremos, ah, no fundo queremos) ser tudo, ser todos, tudo ao mesmo tempo e, com quase que a totalidade do nosso potencial oprimido pelo mundo, acabamos a vaguear robotizados por trajetórias algorítmicas, não-arbitrárias, e sem óleo nas juntas.


ser ou não-ser: eis a ausência de questão se, ao invés de não-sermos, nós fôssemos.

não sei você, mas eu, esse tal de eu que todos falam (e são) deve ser outro, não eu.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

Ora são

"O Dado é o meu pastor; nada me faltará.
Deitar-me faz em verdes pastos, e eu me deito;
Guia-me a águas tranqüilas, e eu nado.
Destrói a minha alma;
Guia-me pelas veredas da justiça.
Por amor à causalidade.
Sim, ainda que andasse pelo vale da sombra da morte,
Não temeria o mal, pois o Acaso está comigo.
Teus dois cubos sagrados me consolam.
Preparas uma mesa para mim
Na presença dos meus inimigos.
Unges a minha cabeça com óleo,
O meu cálice transborda.
Certamente a bondade e a misericórdia e o mal e a crueldade
Me seguirão
Todos os dias da minha vida:
E habitarei para sempre na casa do Acaso."